Visualize a experiência de dançar à dois pela primeira vez
Escrito por: Mileni Francisco | novembro de 2023
Faça o seguinte exercício: resgate em sua memória a primeira vez que dançou ou teve uma aula de dança à dois. Lembre da forma como executava os passos básicos, como fazia os movimentos corporais, qual era seu objetivo com a dança e como se sentiu ao dançar pela primeira vez. Independente do seu tempo de dança, houve muita evolução desde que começou.
Se você nunca teve essa experiência, imagine que a pessoa iniciante dá o seu primeiro passo na dança quando enfrenta suas crenças e medos para fazer sua primeira aula. É alguém que está se propondo a aprender, ouvir, sentir e observar como seu corpo reage a essas novidades. Vê seu corpo fazendo movimentos que nunca fez, se sente desafiado e ao mesmo tempo realizado por ter conseguido executar algo inédito. Ao longo do tempo, aprende a confiar mais em si mesmo e no outro. Porém, se compara com os mais experientes e tem medo de não proporcionar uma boa dança. Comemora cada aprendizado enquanto descobre o ecossistema dançante: aulas, bailes, congressos, rodinhas de aniversário, etc.
Nenhum início é fácil
Muitas barreiras são quebradas para enfrentar o desconhecido. Na dança de salão isso pode se tornar ainda mais complexo, pois é preciso lidar consigo mesmo e com o outro, uma confiança compartilhada. Os motivos que levam as pessoas a ingressar na dança são variados, desde uma prática de atividade física até uma forma divertida para abstrair da realidade. Influenciados por amigos ou conhecidos, os iniciantes fazem aula e se encantam. Depois, permanecem pela forma como a dança as faz sentir ou seguem fugindo dos problemas. Há iniciantes que já fizeram alguma dança solo e por esse motivo possuem facilidade pela consciência corporal e memória muscular. Porém, a maioria dos iniciantes nunca teve contato e diz que não leva jeito, que são duros, que não conseguem, mas o tempo e a prática mostram o contrário.
Outro passo importante é o primeiro baile de dança de salão. Algumas pessoas vão mesmo com pouco tempo de prática, outros demoram meses, até anos, para experimentar. Pode ser uma experiência mágica ou frustrante, depende da forma que se interpreta e se cobra.
Faça outro exercício: se você nunca foi em um baile, vá e observe tudo o que acontece nele! Se já foi, lembre como você se sentiu no primeiro baile: feliz, envergonhado, relaxado, inseguro. Provavelmente houve um misto de sentimentos entre “quero dançar como essa pessoa” e “nunca vou conseguir dançar como essa pessoa”. É um momento decisivo na vida do iniciante: continuar treinando ou desistir. Quem continua, não se arrepende e consegue observar a evolução do seu processo.
Independente do local, o sentimento de ser iniciante é igual para todos. Na visão de Suzana Luniere, 39 (AM), que dança há quatro anos e se considera intermediária, declara que “depois do [congresso do] Rio de Janeiro, me considero iniciante”. O congresso a que ela se refere é o Rio Zouk Congress 2023, um evento de quatro dias com três salas simultâneas, uma para iniciante, outra para intermediários e a terceira para avançados, totalizando mais de 60 aulas e com mais de 600 participantes. Suzana justifica sua visão ao explicar que a distância encarece o contato com profissionais de relevância nacional em Manaus e ter poucos bailes atrasa o processo de aprimoramento. Já que a cidade do Rio de Janeiro “respira” Zouk Brasileiro, pois tem bailes com muita frequência, congressos recorrentes e profissionais de referência. Isso ajuda a explicar o porquê da discrepância entre o nível dos iniciantes quando comparados a estados com realidade diferente.
Ainda que em cenários distintos, um sentimento comum do iniciante é de se sentir limitado por não saber muitos passos. “Fico tendo soluços quando gostaria de ter mais liberdade na dança, acabo seguindo uma receitinha de passos. Me sinto limitado porque queria poder fazer coisas X, mas só consigo fazer coisas Y”, compartilha Guilherme Mendel, 23 (DF), cientista da computação, após seis meses de prática no Zouk Brasileiro. Os “soluços” a que o aluno se refere são os momentos de descontinuidade de movimento, quando há um “tranco” que gera impacto brusco e repentino.
Ser um bom dançarino vai além da quantidade de passos, é sobre técnica, musicalidade, adaptabilidade, criatividade e respeito. No começo se torna difícil reunir tudo isso em uma dança, mas mesmo com o repertório limitado, é possível proporcionar uma ótima dança a partir da sua base. “Às vezes prefiro dançar com um aluno que é um pouco mais iniciante porque ele vai no repertório dele, mas vai focar em deixar uma dança acolhedora, vai ser uma coisa mais confortável”, ilustra Giulia Teixeira, 31 (DF), que considera estar em nível avançado.
Voltar para as aulas de fundamentos e aperfeiçoar passos básicos são uma ótima forma de evoluir rápido. Para melhorar cada vez mais, fazer muitas aulas e treinar são tarefas essenciais. Durante essa fase, respeitar o corpo e o processo de cada um torna a prática muito mais divertida e viciante. Ricke Gonçalves, 39 (MG), advogado, revela que quando passa uma semana sem dançar, fica até mal humorado.
“A dança é um momento de diversão e um movimento de fuga. Quando você está ali dançando, esquece os problemas e é como se reenergizar-se. É incrível a alegria que a dança me traz.”
