A realidade da composição e produção musical brasileira para o Zouk
Escrito por: Mileni Francisco | novembro de 2023
Alguns dias depois de lançar Quarto Dia (DJ Kay, Ya malb, Liffe), o cantor e DJ Kay Carmo, 29 (PA), viu sua música ser adicionada em muitas playlists de Zouk Brasileiro. Ele, que nunca tinha ouvido falar em Zouk, pesquisou e, ao descobrir do que se tratava, pensou “acho que encontrei o lugar que vai me ouvir”. Nos primeiros dois meses após o lançamento, entrou em mais de mil playlists no Spotify. A conexão da música à dança aconteceu por uma interação entre sua produtora e o Zouk Music. Vini Mesquita, 35 (DF), e Carol Dumay, 33 (DF), publicaram um vídeo dançando e no dia seguinte o casal adicionou a música ao canal Zouk Music.
Ao contrário do paraense, a entrada de Well Assis, 36 (PE), como cantor de músicas para dançar Zouk Brasileiro foi intencional. Well praticava outras danças e aprendeu Zouk ouvindo canções internacionais, já que havia poucas referências brasileiras. Em português, o angolano Anselmo Ralph e o brasileiro Paulo Mac tinham maior visibilidade na época. Compreendendo o mercado de Zouk Brasileiro, enxergou como uma oportunidade para se destacar com sua música.
“Quando conheci o Zouk, me apaixonei. Mesmo sabendo cantar outros ritmos, decidi fazer um projeto solo romântico sabendo da escassez do Zouk.”
Para produzir músicas para danças de salão, é preciso entender o que funciona para a pista. O Zouk Brasileiro possui uma marcação quaternária e alguns timbres e marcas de Groove, que encaixam melhor no salão e dão origem aquela “batida gostosa” característica. Como o Zouk é uma modalidade de dança e não um estilo musical, pode ser dançado em vários estilos diferentes (kizomba, tarraxinha, cabolove, pop, etc., desde de que se mantenha o compasso. É possível dançar até mesmo músicas eruditas (clássicas), sem a marcação tão evidente. “No Zouk você dança com os sentimentos daquele momento, com aquela pessoa, com aquela troca de energia. Então você pode dançar sem batida”, afirma Well.
Pelo trabalho de DJs e de produtores musicais, a dança Zouk Brasileiro está se tornando cada vez mais estabelecida, deixando as músicas populares com a sua “cara”. Apesar disso, o Zouk ainda não é tão conhecido e disseminado para além dos dançarinos. Os públicos dos cantores não costumam ouvir canções em looping, pois consomem em playlists e quando são tocadas em bailes, aulas e treinos, seguidas de várias outras músicas.
No ambiente dos bailes predomina a contratação de DJs, já que os eventos de Zouk Brasileiro são congressos e não são shows. Well compartilha que a música é seu meio de sobrevivência, entende o Zouk pelo prazer de dançar e gosta que suas músicas sejam reproduzidas no meio, mas não consegue viver somente disso. Para ganhar notoriedade no meio, as pessoas precisam ver valor no trabalho do artista, quase como construir uma prova social, explicam os cantores. Kay destaca que precisa entregar muito para receber alguma coisa dentro do Zouk e sugere “plantar” nos lugares certos para colher os frutos depois.
Apesar dos desafios, Kay descreve como se sente ao ver pessoas dançando sua música. “Na hora que tô no palco, nossa! Até arrepia! Estou contando uma história e cantando ao mesmo tempo. E vocês estão dançando essa história, isso pra mim é mágico. Quando vejo a galera cantando minhas músicas, aí você senta e chora, que é o sonho do artista se tornando realidade.”
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Composição e produção musical
Para uma música ser tocada no streaming ou no baile, ela passa por uma série de etapas. Cada artista tem o seu método único para compor e produzir sua música, ainda que cada um crie em uma ordem diferente, existem elementos comuns ao longo do processo. Pode fazer tudo sozinho ou ter mais envolvidos.
Na composição, tudo começa com uma ideia, seja em forma de letra, de som ou de algo mais abstrato. Não existe uma regra a ser seguida, visto que há quem prefira iniciar pela letra e outros pela melodia, pensando em quais sentimentos aquela música vai gerar no público. É preciso também definir o estilo da composição, já que há instrumentos característicos e a voz de cada estilo. Nessa etapa, pode-se usar programas e aplicativos que criam sons de instrumentos musicais.
Depois de definida a composição, a etapa de gravação dá vida à música, e pode ser feita com todos os elementos juntos ou separados. Na edição, a mixagem mistura canais e cria um equilíbrio de intensidade e altura. Na etapa de masterização, busca-se uma melhor qualidade sonora. Da composição à edição, existem alguns programas que ajudam a facilitar o trabalho do produtor musical.
Quando a música está pronta, na divulgação os profissionais buscam inserir em todas as plataformas de streaming nacionais e internacionais, para garantir que chegue a diferentes públicos. Essa etapa exige o planejamento de estratégias de divulgação e pode envolver a até a elaboração de videoclipe. O lucro da monetização é diferente em cada plataforma, pois depende do valor médio pago por número de visualizações e do número de plays que a música recebeu.
Média de valor pago, em dólar, a cada visualização por streaming
- Apple Music: US$ 0,00675
- Deezer: US$ 0,00562
- Google Play: US$ 0,00554
- Spotify: US$ 0,00348
- YouTube Content ID: US$ 0,00022
Fonte: Valor Investe – Globo SP