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Dançarinos no baile do Zouk Lovers 2023 | Crédito: Léo Silva

Congressos promovem uma experiência sem fronteiras

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Imersões em Zouk Brasileiro conectam dançarinos de diferentes cidades, criam amizades e oportunizam muita prática

Escrito por: Mileni Francisco | novembro de 2023

“Eu vejo um congresso de dança como um divisor de águas, acho que é uma experiência única que qualquer pessoa tem que vivenciar isso um dia”, acredita a professora de dança Stefanny Jeniffer, 26 (RS). Uma imersão entre teoria e prática, com grande diversidade de pessoas e de lugares, em que todos estão conectados pela linguagem universal da dança. Assim é um congresso de dança, um espaço onde a criatividade ganha força e as amizades surgem aleatoriamente. Apesar da programação intensa e do cansaço, é nesses eventos que os apaixonados pela dança se sentem mais vivos e se enxergam dentro de uma comunidade que compartilha a mesma paixão. Trata-se de uma experiência que inspira a livre expressão artística e alimenta a alma dos dançarinos. 

Um festival pode ter vários objetivos: promover a dança, educar e formar pessoas, captar novos dançarinos, lucrar, viabilizar competições e apresentações, promover redes de contatos, apresentar diferentes estilos e/ou movimentar a cena local. Stefanny conta que, por entender que viajar para congressos fora da cidade se trata de um alto investimento, decidiu trazer essa experiência para sua cidade e criou o Zouk Brasa, em Cuiabá (MT).

Cada evento possui suas particularidades, mas costuma durar, em média, três dias – de sexta a domingo. A programação divide as aulas pela manhã e/ou tarde, enquanto os bailes ocupam a noite e a madrugada – às vezes, sem hora para acabar. Dessa forma, as pessoas ficam imersas no ambiente dançante, aprendendo e praticando muito. O valor médio de um ingresso, com acesso a todas as aulas e bailes, varia de R$200,00 a R$1000,00. Os congressos realizados em hotéis tendem a ser mais econômicos, por incluir a hospedagem e parte da alimentação. Veja alguns exemplos.

  • Rio Zouk Congress (RJ), janeiro de 2024 → Terceiro lote no valor de R$500,00;
  • Blumenau Zouk (SC), março de 2024 → Primeiro lote no valor de R$250,00;
  • ForZouk (CE), julho de 2024 → Primeiro lote no valor de R$490,00;
  • UAIZouk (MG), setembro de 2024 → Primeiro promocional no valor de R$500,00.

Esse tipo de evento é para pessoas de todos os níveis – desde quem nunca dançou até pessoas com anos de experiência – incluindo alunos, professores, assistentes e bolsistas. A médica veterinária Cacau Flores, 27 (SC), conta que em seu primeiro congresso, no Zouk Max, em outubro de 2023, estava nervosa por chegar em um meio onde praticamente todo mundo já sabia dançar, mas que a experiência não poderia ter sido melhor. “Fui recepcionada com carinho, abraços, paciência e muitos sorrisos. Me senti acolhida de uma forma que não imaginei que poderia acontecer, pelas pessoas presentes e também pela própria dança que me ensinou tanto sobre saber relaxar e soltar as rédeas para se permitir sentir e ser levada”, conta.

Quem participa com frequência, em geral, é porque gosta de estudar e de se atualizar. Por essa razão, é comum encontrar as mesmas pessoas em diferentes congressos pelo país. Por frequentar esses eventos, amizades surgem e se fortalecem, garantindo até o compartilhamento de quartos em futuras viagens. A partir das imersões em dança, Larissa Korosue, 27 (SP), decidiu virar professora de dança para espalhar seu amor pela dança.

“A imersão na dança e o contato com pessoas que compartilham desse amor pela dança são fascinantes e, de certa forma, viciantes. Depois desse primeiro congresso, passei a fazer questão de ir em outros, ver a cena da dança em outras cidades, conhecer novas pessoas e reencontrar as novas amizades feitas em outros congressos”, garante ela.

Os “viciados em congressos” compram ingressos do “Lote no Escuro”, mesmo sem saber quem serão os profissionais convidados, apenas para garantir a participação na próxima edição.

Enquanto as aulas regulares formam os dançarinos, as aulas em congressos buscam informar e “dar temperos”. Há vários formatos e possibilidades de passar informações aos alunos, mas nem toda aula ensina passos ou sequências, às vezes são trabalhados conceitos e técnicas. Cada profissional possui a sua forma de ensinar e a diversidade de ideias, metodologias e didáticas abrem portas para muito aprendizado. As informações transmitidas costumam ter efeito a longo prazo, meses depois de um evento a pessoa percebe que o corpo “desbloqueou” aquele aprendizado. 

Quando um profissional é contratado para dar aula em um evento, precisa indicar o tema a ser trabalhado. O contratante pode sugerir o tema, mas, em geral, a escolha vem dos professores. Todos os assuntos ou movimentos podem ser tratados de maneira iniciante, intermediária ou avançada. Para ser acessível, costuma-se mesclar os níveis, de forma que a dificuldade vai aumentando no decorrer da própria aula e cada pessoa se sinta confortável para abraçar os desafios que conseguir. Muitos profissionais evitam repetir o tema das aulas, já que existem grupos de alunos que os acompanham ao longo de suas turnês.

No final das aulas, os profissionais realizam uma demonstração – a famosa demo. O objetivo deste momento é demonstrar diversas aplicações do movimento ou do conceito trabalhado na aula. Indicam as entradas e saídas da movimentação, mostram como aplicar os passos em diferentes velocidades e como seria executada no tempo da música. Nesses momentos, o trabalho desses artistas também ganham visibilidade. 

Para além da teoria, os dançarinos se desenvolvem na prática, logo o principal atrativo de um congresso são os bailes, que costumam ter temáticas, como festas do pijama, de halloween, de super heróis, etc. Duram, em média, quatro a seis horas, mas há também os bailes “infinitos”, aqueles sem hora para acabar – o preferido dos “inimigos do fim”. É nos congressos que os alunos têm a oportunidade de dançar com professores que admiram. 

Co-responsáveis pelo sucesso de um baile, os DJs, conseguem captar a vibe daquele congresso e transformar na frequência ideal para que as pessoas vibrem na pista. Na ocasião também podem acontecer competições como Jack and Jill, apresentações de coreografias ou alguma brincadeira de improviso entre professores. “Depois que eu fui conhecer o que realmente era um congresso e eu vi que era uma parada surreal”, compartilha Stefanny. 

Em congressos, são muitas aulas e todas passam rápido. Como há pouco tempo para praticar, as pessoas aproveitam os bailes para treinar os novos movimentos. Contudo, há também um excesso de informação por conta das aulas que nem sempre são postos em prática. Apesar disso, a diferença entre dançarinos que vão em congressos e em bailes é nítida quando comparada com quem não os frequenta. O advogado Ricke Gonçalves, 39 (MG), conta que sente dificuldade ao tentar aplicar o que aprende no congresso com pessoas que não participam. “As pessoas daqui não frequentam [congressos], aí quando eu chego aqui e tento fazer, não consigo colocar em prática. É difícil porque apesar de eu ter aprendido a técnica, a outra pessoa não tem a técnica”.

Participar de um congresso proporciona melhora no desenvolvimento do dançarino, além da oportunidade de dançar muito, pode estar junto dos amigos, fazer amizades e também interagir com professores. Nos eventos em outras cidades, ainda dá para turistar e conhecer novos lugares.  “O fato de você estar imerso, dançando com outras pessoas, tendo a oportunidade de receber várias conduções e dançar com pessoas diferentes amplia muito a visão e a técnica”, acredita a professora de Zouk, Lívia Paixão, 33 (PA). 

Dançarinos no baile do Zouk Max 2023 | Crédito: André Cruz