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Ana Reis e Pedro Castro, 2021 | Crédito: Camarão Produções

Negritude que dança

Tempo de leitura: 3 minutos

Mesmo sendo maioria no Brasil, negros são minoria na dança de salão

Escrito por: Mileni Francisco | novembro de 2023

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 2022, mais da metade da população brasileira se autodeclara como pardos (45,3%) e pretos (10,6%). Apesar de serem a maioria no país, são minoria na dança de salão. A professora de danças sociais Bruna Peçanha, 22 (RJ), comenta que é até difícil lembrar quantos profissionais negros há no Zouk Brasileiro, com predominância de mais homens que mulheres. Nos eventos também há predominância de pessoas brancas. A baixa representatividade social acontece, em parte, porque a educação artística é um privilégio que nem todos têm acesso

Os reflexos do racismo estrutural estendem-se à dança. O professor de danças a dois, Pedro Castro, 21 (RJ), observa que a formação dos profissionais pode ser melhor compreendida sob a ótica de uma sociedade carregada de preconceitos. Ele aponta que se vê maior quantidade e aceitação de homens negros em parceria com mulheres brancas – como se isso fosse “um símbolo do sucesso”. E pouco se vê uma dupla em que ambos são negros. Ele e a parceira Ana Cecília, 22 (RJ), são um exemplo raro de profissionais pretos e, ainda, de referência internacional.

“Nessa pouca representatividade de pessoas pretas a gente se coloca no lugar de que existe, por trás de todo o nosso amor e paixão pela arte, uma missão também de ser essa referência para as pessoas que vão vir. Acho que a nossa arte perpassa por isso, por quem a gente é”, compartilha Ana. 

Dançarinos no baile do Zouk Hour 2023 | Crédito: Beatriz Rey

Quando questionados sobre discriminação em meio a dança, os profissionais entrevistados não lembraram de nenhum caso explícito. Contudo, “como professora, sinto esse preconceito mais de quem tá entrando na dança, [pois] sempre tenho que provar que sou boa e que sei do que estou falando. É uma coisa que já é tão natural na minha na minha mente que já faço isso naturalmente quando tô dando aula”, comenta a professora de dança Evellyn Vasconcelos, 29 (AL). O professor Hudson complementa que, para a sociedade, é muito difícil acreditar que “uma pessoa negra pode ser realmente artista”. 

Embora não haja um nítido preconceito no ambiente Zoukeiro, o professor Walter Fernandes, 29 (RJ), esclarece que precisa “saber se comportar” em cada local, sobretudo em países com racismo mais evidente. “Tento me adaptar a cada ambiente. Tive que falar um pouco de russo e andar um pouco até como russo para poder me encaixar no local, porque sou preto”. Melyssa Tamada, 22 (SP), professora de Zouk Brasileiro, conta que dança para expressar toda a felicidade que a dança traz para ela. Já Marck Silva, 25 (PE), professor e parceiro de Melyssa, reflete que expressa todo o sofrimento que passou para chegar onde chegou, pois “quando eu danço isso tá muito no meu movimento, carrego isso comigo”.

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