Não basta apenas convidar PCDs para a dança, é preciso garantir acessibilidade, acolhimento e oportunidades reais de protagonismo
Escrito por: Mileni Francisco | novembro de 2023
Para alguns, pode ser difícil imaginar como uma Pessoa com Deficiência (PcD) pode dançar. A artista Carol Hiss, 25 (RJ), acha engraçado a surpresa dos dançarinos, sobretudo aqueles que não sabem como dançar com ela.
O atleta e bailarino profissional Isaias José dos Santos, 37 (PE), também conhecido como Rebô, teve sua medula comprometida aos 15 anos, devido a uma bactéria na coluna e, desde então, anda de cadeira de rodas. Depois de entrar na dança como hobby, se apaixonou e vai em todos os bailes que consegue, contudo depara-se com a discriminação nas pistas. Ele conta que as mulheres acham que ele não vai conseguir conduzi-las, mas depois que o veem dançando, que faz vários passos e ainda roda o salão das gafieiras, o preconceito se torna curiosidade.
Escolas de dança não costumam ser acessíveis para garantir que PcDs ocupem esses espaços. A maioria dos profissionais de danças sociais nunca teve contato ou experiência em dar aula para uma pessoa com deficiência. Os salões dos bailes, muitas vezes, não são adaptados para receber alguém com cadeira de rodas, por exemplo. É preciso ajuda para entrar, pela falta de acessibilidade. Para “compensar” essa falha, a entrada costuma ser gratuita às PcDs. Apesar da Lei Nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, estabelecer “normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida”, espaços de dança e eventos não garantem a inclusão de PcDs, nem como público, tampouco como dançarinos.


Para além disso, é preciso compreender que a Pessoa Com Deficiência nem sempre estará bem – como acontece com qualquer um. Hudson, um artista em hemodiálise, conta que sua doença afeta seu desempenho como dançarino e, às vezes, não tem condições de estar dançando. Já aconteceu dele ter que abrir mão de trabalhos por conta do seu tratamento ou por não se sentir bem, “sou um artista e continuo tentando ser artista no meio desse turbilhão de preconceito e de estereótipos”.
A falta de empatia e o capacitismo segue presente no meio dançante. Carol compartilha que os dançarinos a aceitam para dançar quando está em pé, diferente de quando está na cadeira de rodas. Ela conta que já viu pessoas saindo de uma aula por conta dela e que ouviu ser “um absurdo ela estar fazendo aula, que não deveria estar ali”. Carol carrega o sonho de fazer uma aula em que todos teriam a experiência de dançar em sua cadeira para sentir o que ela sente dançando. Se trata de uma dança adaptada, então não precisa fazer passo nenhum, mas existem técnicas para aproveitar melhor a dança. Durante um congresso, uma pessoa achou incrível dançar com ela por visualizar que era só sentir. Depois, quando pediu que ficasse na cadeira enquanto ela o conduzia, ele realmente entendeu e gostou. “Já coloquei várias pessoas na cadeira, é muito gostoso ver as pessoas se permitindo e é muito engraçado ver as pessoas não se permitindo também”.
Para Rebô, ser uma pessoa com deficiência na dança é servir de inspiração para outras pessoas ao ouvir que querem dançar como ele.
“Vou mostrar que tem pessoas que dançam, dar visibilidade a outras pessoas, abrir caminho para outras e mostrar que deficiente não é só atleta, pode fazer tudo que quiser”.
Rebô Izaias e parceira em apresentação de dança, 2023 | Crédito: Arquivo pessoal
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