Saiba como funciona a estrutura e quais são as responsabilidades de administrar uma escola de dança
Escrito por: Mileni Francisco | novembro de 2023
Nas salas, os espelhos cobrem toda a parede. No canto, uma caixa de som destoa do piso deslizante, que preenche todo o espaço. Uma mistura entre o cheiro do ar condicionado e o suor das pessoas. Um assoalho que recebe diferentes corpos, idades e níveis de habilidade. As paredes ecoam músicas e testemunham danças. Assim é uma escola de dança, um lugar capaz de abraçar desejos, medos e inseguranças, um espaço seguro para descobrir-se e dar o melhor de si.
Escolas de dança são ambientes que buscam fomentar a saúde, promover o amor pela dança e pela arte, ensinar tanto a técnica quanto o improviso e preparar o aluno para espetáculos e competições. Servem também como alternativa para aqueles que buscam praticar uma atividade física, mas não gostam de musculação. Inclusive, há muitas academias que oferecem tanto a musculação quanto o ambiente dançante, seja para danças solo ou em par.
A ausência de instituições com dados precisos sobre as escolas de dança impossibilita saber o quanto elas movimentam o mercado. Mas, sua principal fonte de renda são aulas e eventos. Empregam professores, monitores, recepcionistas e pessoas envolvidas na realização de bailes, congressos e apresentações. As escolas dão oportunidade para bolsistas fazer aulas com alguma condição – não pagar ou ter valor reduzido na mensalidade, por exemplo. Aos profissionais contratados, o pagamento pode operar em acordos variados: celetista ou PJ por hora/aula, participação nos lucros, proporcional ao número de alunos matriculados e outros meios. Em geral, não há um salário fixo, com o valor variando de mês a mês sazonalmente.
Ainda que falte um número exato de escolas de dança do Brasil, elas tem um propósito comum: movimentar o ambiente dançante para se manterem vivas e lucrativas. Para garantir que isso aconteça, é preciso criar um local acolhedor, algo que exige trabalho para além das dependências físicas. Os responsáveis por escolas de dança têm uma série de tarefas a cumprir, como por exemplo:
- Realizar atividades administrativas e financeiras;
- Captar e fidelizar alunos;
- Abrir e fechar turmas;
- Organizar grade de horários;
- Gerir funcionários, professores, bolsistas e alunos;
- Fazer a manutenção do espaço;
- Planejar, organizar e divulgar bailes e eventos;
- Planejar e realizar espetáculos;
- Ensaiar para apresentações e competições;
- Participar ativamente da cena de dança local.
Uma das principais adversidades enfrentadas pelas escolas é a fidelização dos alunos. Como a dança é vista como lazer, se torna o primeiro gasto a ser cortado frente a dificuldades financeiras, falta de tempo e/ou a mudança de prioridades. Além do relacionamento com os clientes, outro desafio é a incompatibilidade de personalidade entre os profissionais que trabalham na escola, já que é preciso gerir pessoas com diferentes expectativas e pontos de vista.
Para minimizar os desafios, muitas escolas apostam não apenas na qualidade das aulas, mas também na criação de um senso de comunidade entre os alunos. Promover a cena local vai muito além de apenas realizar práticas para os alunos se desenvolverem, sobretudo em danças não tão conhecidas. Enquanto o Forró é mais popular e facilmente encontrado em diferentes cantos do país, a comunidade zoukeira depende da realização de bailes para crescer. Criar uma comunidade demanda a organização de bailes regulares e de grandes eventos como congressos e de iniciativas para treinar/praticar de maneira constante.
“O baile, de modo geral, é para a comunidade fortalecer. Principalmente o pessoal da dança de salão tem a necessidade de fazer aula para dançar em algum lugar, então a gente precisa ter um local para eles dançarem”,
certifica Andressa Lobato, 30 (RS), sócia da Dance Ímpar em Florianópolis.



Dançarinos no baile do Zouk Hour 2023 | Crédito: Agnaldo Moita
Plano de carreira
Algumas escolas têm um sistema de hierarquia dentro de um plano de carreira, em que a pessoa sobe de nível até se tornar professor. Cada escola define os títulos e papéis de cada função que escolhem, como bolsista, monitor, assistente, etc. Bolsistas podem ser selecionados por meio de audição, testes de técnica e habilidade ou por critérios socioeconômicos, disponibilidade de tempo e não exigem, necessariamente, experiência com dança. Fica a critério de cada espaço.
Eliza Moritz, 42, sócia do Casarão da Dança, em Florianópolis (SC), garante que o principal combinado com seus bolsistas é a disponibilidade de tempo para estar na escola. “Já vi muitas relações com bolsistas que achava errada, porque via como relações trabalhistas [contratadas formalmente]”, comenta. Ela explica que muitos ambientes enxergam o bolsista como o “faz tudo” e exigem compromissos como se fossem um trabalho formal.
Quanto a hierarquia de trabalho, há escolas que definem mais de um nível dentro de uma mesma categoria – por exemplo assistente I e II. Em geral, a escala é: bolsista → assistente → professor, mas não é uma regra. O critério para avançar no nível varia conforme as regras da escola, o tempo de dança e o nível de habilidade também podem influenciar no processo.
