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Atendimento do Zouk Lovers 2023 | Crédito: Léo Silva

Registro da dança: as profissões que dão vida aos eventos

Tempo de leitura: 6 minutos

A realidade de designers, fotógrafos e filmmakers que elevam a experiência e eternizam momentos na dança de salão 

Escrito por: Mileni Francisco | novembro de 2023

Por trás de toda a expressão artística e cultural, há uma série de profissionais que trabalham para criar uma experiência memorável para quem dança. Em um congresso, por exemplo, há destaque para os professores e DJs, mas o designer, fotógrafo e filmmaker também são responsáveis pelo sucesso de um evento. Há também massagistas e/ou fisioterapeutas contratados em eventos para tratar dores e lesões dos congressistas, ao mesmo tempo em que esse serviço profissionaliza ainda mais e se torna um diferencial do evento. Cada profissional se conecta com a sua arte e se dedica a registrar e promover a dança a partir de seus conhecimentos.

Há quem trabalhe exclusivamente para a dança de salão e aqueles que o fazem esporadicamente. Enquanto alguns caíram no ambiente dançante de forma aleatória, quem já era do meio enxergou na dança uma oportunidade de juntar trabalho e hobby. Por envolver áreas e profissionais distintos, a dança de salão movimenta o mercado e gera empregos:

  • Estilista/Designer de Moda: responsável por criar o design de uma roupa ou figurino;
  • Costureira: pessoa que dá vida ao design de um figurino;
  • Mestre de Cerimônias: conduz e faz a mediação de apresentações e/ou competições
  • Equipe de Apoio: quem trabalha em alguma função geral ou específica durante um evento. Às vezes, quem trabalha como Staff ganha a entrada do evento ao invés de receber em dinheiro;
  • Social Media: publica, interage e administra as contas do evento nas redes sociais;
  • Designer: produz peças gráficas e/ou produtos voltados para a comunidade dançante;
  • Vendedor de artigos de dança: vende roupas, sapatos e demais produtos para serem utilizados pelos dançarinos;
  • Massagista/Massoterapeuta: normalmente contratado em congressos, o profissional faz uma avaliação do dançarino e realiza massagens. 

Arte em produtos

Um designer também é, de certa forma, um artista. A partir de sua imaginação, habilidades e técnicas, conta histórias e provoca emoções ao dar vida a algum produto. No caso do designer gráfico, seu trabalho envolve produzir toda a estética visual de um evento, escola, ação ou produto. Cabe a ele criar a identidade visual, desenvolver logotipos, materiais gráficos, como artes para publicação, flyers, banner, etc. 

Se engana quem pensa que se trata de um trabalho qualquer, ainda mais quando as pessoas não conseguem definir com clareza o que querem. No exercício da profissão, precisam entender e conhecer o meio artístico para que consigam criar uma identidade visual para um evento, deixando as informações claras em um formato interessante, para gerar interesse e contribuir nas vendas. 

Paola Lima, 31 (RJ), formada em Design Gráfico e responsável pelas artes dos eventos organizados por Renata Peçanha, conta que trabalhar com design é “dar a cara” e orientar a proposta do que se espera daquele evento. “O designer vai conseguir captar a essência do que a pessoa está querendo informar, porque, assim, arte bonita hoje em dia tá muito fácil de você conseguir, né? Mas sempre falta alguma coisa. Às vezes me mandam um flyer [panfleto] com as informações todas espalhadas. Só das pessoas perceberem o que não é bom, já fico um pouco mais feliz em ver que ainda há esperança, de confiarem que é importante ter um design”

O processo criativo da construção dos materiais envolve compreender o objetivo do evento, pesquisar referências, estudar tendências e combinar estilos, cores e tipografias. Paola comenta que gosta quando recebe alguma sugestão ou orientação, pois considera a criatividade um desafio constante, pois precisa estar bem para ter ideias. Outro contratempo comum ao produzir para a dança de salão é que nem sempre os profissionais têm fotografias em boa qualidade ou que mostram seus rostos. Não raro, os artistas enviam imagens de perfil ou em poses que dificultam identificar com clareza as pessoas na foto. À medida que os profissionais perceberam a importância de uma boa divulgação, começaram a desenvolver seu Media Kit com imagens feitas por fotógrafos.

Parte dos designers contratados não cobram nada ou estipulam um valor abaixo do mercado por conhecerem a realidade da dança de salão e também por terem sua renda apoiada em outros clientes. Em muitos casos, a organização do evento não consegue custear o trabalho de um profissional, então utiliza ferramentas e sites na internet que entregam modelos prontos, sem muitas opções de customização, para materializar os produtos que precisa. 

Arte em movimento

Filmmaker Indyo no Zouk Unity 2023 | Crédito: Agnaldo Moita

Fotógrafos e filmmakers carregam a responsabilidade de eternizar momentos e sensações dos dançarinos. Registram coreografias, competições, aulas e festas, capturando a energia, a conexão e as expressões de quem dança. Além de documentar o talento, as imagens e os vídeos servem como lembrança, divulgação dos eventos e material para publicação nas redes sociais. Em alguns casos, fotógrafos são contratados para fazer ensaios profissionais que ajudam a construir o Media Kit dos artistas. Já em congressos, tanto fotógrafos quanto filmmakers também negociam um “combo” com o contratante. Podem ser solicitados para fazer a cobertura geral de aulas e bailes, registrar competições e apresentações e recap do congresso – um vídeo resumo. O maior trabalho acontece nos dias do evento, com captura das imagens, edição e publicação dos materiais. Weslley Bittencourt, 27 (RJ), filmmaker defende a ideia de que o profissional deve garantir a cobertura em tempo real com conteúdos gravados e lançados com o máximo de rapidez. Ao compartilhar os acontecimentos do congresso quase ao vivo, cria engajamento, pois satisfaz congressistas e gera vontade em quem não pode participar. 

A essência por trás do trabalho do filmmaker e do fotógrafo é mostrar – literalmente –, através da imagem como foi aquele evento. Os registros servem como uma prova social do sucesso, seja pelo número de pessoas, pelos profissionais presentes ou pelo quão divertido estava. O “burburinho” nas redes sociais pode ser usado para estimular a participação nas próximas edições. Reforça também a percepção de valor, já que o congressista enxerga o quanto a organização está investindo. As vantagens desse serviço impactam tanto no presente – enquanto está acontecendo o congresso –, quanto no futuro. 

Apontar o celular ou a câmera para os dançarinos é fácil, mas nem todo vídeo consegue passar a emoção do que estava acontecendo de forma presencial. Alisson Fernandes, 38 (PI), conhecido como Indyo, comenta sobre as filmagens em que é possível imaginar ou até sentir o que os dançarinos estavam vivenciando. “O diferencial para dança é você sentir e botar aquele sentimento no vídeo. Seja com movimentação, com técnicas de gravação, com edição, não importa. Só importa botar o sentimento naquele vídeo.” Conhecer o público e o tipo de evento é importante, pois é preciso cuidado e estudo para escolha de ângulos, enquadramentos, cortes, transições, créditos, trilha sonora de um vídeo recap, pois precisa transmitir a energia do evento e entusiasmar o expectador. 

“Fazer com que as pessoas consigam não só relembrar, mas trazer aquela sensação do que a pessoa viveu ou que a pessoa não viveu. Estar ali assistindo o vídeo e conseguir sentir a emoção do que foi aquilo”

é o que mais fascina Weslley na profissão. Contudo, pelo comprometimento com a instantaneidade, quem desempenha esse trabalho quase não descansa durante os eventos, pois são os últimos a sair e os primeiros a chegar. Esses profissionais precisam de olhar aguçado e técnica para congelar ou acompanhar momentos enquanto as pessoas estão em constante movimento em um ambiente com pouca luminosidade. Logo, além de dominar a fotografia, precisam investir em bons equipamentos. 

O maior desafio enfrentado por todas as profissões vinculadas à dança de salão está na valorização dos profissionais e na percepção da importância de seus trabalhos. A dança não possui grandes investimentos financeiros, fazendo com que profissionais do audiovisual também não sejam remunerados à altura. Apesar disso, muitos profissionais resistem e dedicam-se por amor à dança de salão. Contribuem, principalmente, para o sucesso de eventos ao materializar a arte em produtos e ao criar e documentar memórias.