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Mariana Villar, Ítalo Barbalho e DJ Montini dançando no Sunset do Zouk Hour 2023 | Crédito: Beatriz Rey

Ter um corpo fora do “padrão” dançante

Tempo de leitura: 3 minutos

Pessoas fora do padrão hegemônico estão conquistando seu espaço na dança e desafiando a visão tradicional de quem “pode” dançar

Escrito por: Mileni Francisco | novembro de 2023

A associação do peso à capacidade de uma mulher dançar com desenvoltura é tão forte que mulheres gordas nem entram para a dança, por acreditar que não poderiam. Outras insistem em dançar, mas reconhecem ouvir que para ser profissional “precisa” emagrecer ou devem desistir da carreira. 

Durante o programa Se Ela Dança Eu Danço, em 2011, um dos jurados disse à Rubia Frutuoso que a dança possui uma estética e “que havia uma gordura sobrando ali, que não tava muito legal”. A profissional que tinha dado à luz há pouco tempo, acredita que esse foi o jeito “desastrado e sensacionalista” de abordar sua maternidade. Ela conta que muitas pessoas se sensibilizaram e levou um certo tempo até perceber o quão errada aquela fala tinha sido, “nem me dei conta que era uma atrocidade, [que para] uma mulher no puerpério não fazia sentido uma fala daquela né, mas também me sinto feliz por ter sido forte o suficiente para não deixar tudo aquilo resvalar em mim”. 

As pessoas com “corpo não padrão”, muitas vezes, não são chamadas para dançar pelo julgamento, “a pessoa faz uma análise corporal, de cima a baixo e pensa ‘vou ter muito trabalho porque a pessoa é pesada, não deve dançar e aí vou me machucar, porque ela é pesada’”, conclui a DJ Ju Sanper. 

Além dos estereótipos de ‘ser uma pessoa pesada’, há a própria insegurança do/a/e dançarino/a/e por não saber se a outra pessoa irá sustentá-la durante uma movimentação. A professora de dança de salão Mariana, lembra quando estava treinando com seu parceiro Ítalo Barbalho, 24 (BA), e ele pediu para ela “parar de ajudar” em movimentações de contrapeso. Ou seja, que ela deveria entregar seu corpo de forma que ambos estivessem com o peso dividido para fazer a movimentação. Contudo, para ela era difícil abrir mão do controle pelo fato de ter sido ensinada que a Dama tem que ser leve. “É uma coisa que foi alimentada na minha cabeça que tento desmistificar. Não vai ser o meu peso, não vai ser a minha massa, o meu tamanho que vai ditar se eu consigo fazer aquele movimento ou não.”

Ao se deparar com uma dançarina de alta performance com um corpo gordo, as pessoas ficam surpresas com a qualidade da dança, fazendo comparações do tipo: “dança melhor que alguém magro”. A artista Bruna Peçanha (RJ), lembra que se sentia mal por achar que não poderia fazer um show de alto nível por não conseguir fazer passos aéreos, de giros e de contrapeso. “Trabalhei para conseguir fazer e hoje em dia acho que os giros são uma das minhas melhores qualidades dançando, então é possível sim!” 

Uma professora e uma bolsista de corpos gordos eram as referências de Ju Sanper para não parar de dançar e, agora, ela fica muito feliz em ser inspiração.

“Já aconteceu de vir mulheres falar que sou referência para elas e que não desistiram de dançar porque me viam dançando, ‘se ela pode dançar, eu também posso.”

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